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05_Emoções da Guerra Fria: o amor materno e a guerra em torno da natureza humana [1]

Marga Vicedo

Introdução: o que o amor tem a ver com a Guerra Fria?

A Guerra Fria abrange um período de profundas transformações sociais e intenso debate acerca dos papéis de gênero, da estrutura familiar e das relações que ambos possuem com a ordem social. Historiadores americanos examinaram o impacto da II Guerra Mundial nas mulheres que estavam entrando no mercado de trabalho remunerado, a ênfase na domesticidade durante a Guerra Fria e a ascensão do segundo movimento feminista. Mais recentemente, alguns historiadores mapearam a mudança de visão acerca da maternidade na América do pós-guerra (Buhle, 1998; Feldstein, 2000; Plant, 2010; Vicedo, 2013). Contudo, ainda precisamos de uma melhor compreensão de como a ciência foi afetada por — e contribuiu para — esses acontecimentos sociais. Aqui, então, quero olhar de modo mais aprofundado para a ciência do amor materno durante os primeiros anos da Guerra Fria.

Irei explorar como a Guerra Fria alimentou uma visão do amor materno como necessidade biológica, especificamente o ponto de vista de John Bowlby, segundo o qual os bebês possuem uma necessidade instintual de cuidado e amor maternos. Afirmarei, em primeiro lugar, que os estudos da cultura e da personalidade que enfatizam a importância da criação dos filhos para explicar ordenamentos sociais, juntamente com estudos psicanalíticos da privação e da superproteção maternas, ajudaram a estabelecer um nexo entre o amor materno, a maturidade emocional e uma ordem democrática. Em segundo lugar, argumentarei que esse nexo foi central para incentivar um movimento rumo à naturalização do amor materno e do amor pela mãe. Em terceiro, proponho que essa visão acerca de uma necessidade de amor materno que teria a criança desempenhou um papel crucial na justificação de uma divisão de papéis parentais com base no gênero que foi vista como necessária à estabilidade da sociedade.

Apresentarei esse ponto de vista sob a rubrica de uma ciência social da Guerra Fria e, portanto, devo especificar o que quero dizer com isso. O historiador da ciência Peter Galison nos incentivou a articular os nossos argumentos em explanações científicas contextuais. Ele pergunta: “Será que uma explanação contextual é tão forte quanto uma descrição causal” ou ela é “tão fraca quanto dizer que o entorno oferece ‘recursos’ utilizados pelos cientistas que estamos estudando?” (Galison, 2008, p. 113)[2] Como outros neste volume, as visões que discuto em meu capítulo possuíam raízes profundas em desenvolvimentos pré e pós-II Guerra Mundial, sobrevivendo bem à queda da Cortina de Ferro. Porém, mesmo se as visões específicas acerca do amor materno que discuto aqui estivessem temporalmente relacionadas com a duração da Guerra Fria, eu não diria que foram por ela geradas ou causadas de forma direta. Seja como for, reivindico mais do que simplesmente dizer que calhou de essas teorias serem desenvolvidas durante o período da Guerra Fria e que, portanto, elas se utilizaram dos recursos conceituais e retóricos então disponíveis.

Acredito que as condições ideológicas e sociais associadas com a Guerra Fria forneceram o enquadramento no interior do qual visões específicas acerca do papel das emoções na formação da personalidade, incluindo o amor materno e o amor pela mãe, puderam florescer. O discurso sobre o amor materno não dizia respeito apenas a sentimentos pessoais, ou mesmo à regulação da vida das mães. O discurso sobre as emoções, como notaram vários historiadores, é um instrumento de controle político (Reddy, 2001; Hochschild, 2003; Reddy, 2009; Rosenwein, 2002; Stearns & Lewis, 1998). Os cientistas sociais estavam plenamente cientes de que ganhar a Guerra Fria não era apenas uma questão de bombas e mísseis. Em termos mais profundos, a sociedade precisava entender a natureza humana a fim de controlá-la.

Da cultura e da personalidade ao amor materno e a ordem social

Durante a II Guerra Mundial e o período que a sucedeu, muitos cientistas sociais ressaltaram a importância das emoções no comportamento humano. Na II Guerra Mundial, três milhões de homens foram rejeitados do serviço militar por terem sido considerados emocionalmente instáveis.[3] Após a guerra, especialistas atribuíram grandes transtornos na sociedade americana a problemas emocionais subjacentes, incluindo insegurança, imaturidade e desequilíbrio. Em 1949, o Relatório de Estudo para a Fundação Ford sobre Políticas e Programas apresentou um cenário alarmante:

Nenhum censo pode mostrar quantas pessoas em nossa sociedade trabalham sob o efeito incapacitante de um ajuste emocional inadequado. As estimativas variam muito; algumas autoridades consideram o desajuste emocional como o mal mais característico e generalizado de nossa civilização […]. Esse desajuste torna as pessoas incapazes de ter relações satisfatórias com seus semelhantes, pouco dispostas a cooperar adequadamente e incapazes de competir com êxito (The Ford Foundation, 1949, p. 44).[4]

O desajuste emocional põe em risco a coesão do tecido social e o êxito do Capitalismo Americano. Até a sobrevivência da democracia era entendida como um problema emocional. “As reais dificuldades com a democracia […] são emocionais”, declarou Franz Alexander (1951, p. 235;), fundador do Instituto Psicanalítico de Chicago. Alguns cientistas sociais recomendaram, então, que se prestasse mais atenção ao lado emocional dos seres humanos. Por exemplo, o psicólogo Gordon Allport, de Harvard, pedia maior atenção aos “problemas do afeto humano e às condições para o seu desenvolvimento” (Allport, 1947, p. 189).

O interesse pelas emoções não era novidade na ciência. Os psicólogos, de William James a John Watson, haviam explorado a natureza e a significância das emoções. Mas a guerra ajudou a precipitar uma guinada em direção à centralidade das emoções na explicação do comportamento humano, da personalidade e da ordem social. Essa guinada pode ser apreciada em vários desenvolvimentos do pós-guerra conectados entre si: a majorada ênfase nas emoções dentro dos estudos da personalidade e da cultura; a ascensão da análise com crianças e do desenvolvimento infantil, bem como o foco de ambos no desenvolvimento emocional; o florescimento de um discurso acerca do papel das mães na formação da personalidade emocional adulta.

Na esteira do interesse presente entre sociólogos e antropólogos antes da guerra, os cientistas sociais conduziram vários estudos sobre personalidade e cultura durante a II Guerra Mundial e depois. O Exército dos EUA solicitou que a antropóloga Ruth Benedict desenvolvesse um programa de pesquisa sobre culturas contemporâneas na Universidade de Columbia. Sua amiga e colega, a antropóloga Margaret Mead, coordenou esse programa depois que Benedict morreu, em 1948. E esses estudos tinham como foco não terras exóticas estrangeiras, mas a compreensão de regimes totalitários como a Alemanha nazista ou a União Soviética e, em contraposição, sociedades democráticas como os Estados Unidos. Em 1942, Mead publicou And Keep Your Powder Dry [E conserva seca a tua pólvora][5] — lançado, em 1944, como The American Character [O caráter americano]. Ruth Benedict explorou o caráter nacional japonês em seu livro O crisântemo e a espada, de 1946. Em 1949, o antropólogo britânico Geoffrey Gorer e o analista John Rickman publicaram The People of Great Russia [O povo da grande Rússia]. Em 1950, T. W. Adorno, Else Frenkel-Brunswik, Daniel J. Levinson e R. Nevitt Sanford publicaram The Authoritarian Personality [A personalidade autoritária]. Um ano depois, Mead publicou Soviet Attitudes toward Authority [Posturas soviéticas em relação à autoridade].[6]

Influenciado pela antropologia cultural de Franz Boas, esses acadêmicos enfatizaram os fatores ambientais que moldam o comportamento humano e prestaram especial atenção à criação dos filhos na formação do caráter de uma sociedade. Por exemplo, Adorno e seus coautores argumentaram que uma idealização da maternidade e uma autoridade paterna estrita resultavam em personalidades rígidas propensas a tendências antidemocráticas. A questão central era como o processo de socialização infantil afetava a personalidade dos adultos e, com isso, também a ordem social. No final dos anos 1940, muitos desses estudos centravam-se cada vez mais nas necessidades emocionais das crianças e nas emoções dos pais. Em parte, essa mudança refletia uma preocupação mais ampla com as emoções, como observado anteriormente; em parte, refletia também a significância crescente do campo do desenvolvimento infantil e a ascensão das preocupações psicanalíticas com a primeira infância. Esta última, por sua vez, colocou um foco sobre o papel da mãe na formação das emoções.

Vários psicanalistas estudaram os efeitos da separação e da privação maternas. Os escritos de Anna Freud e Dorothy Burlingham sobre crianças que sofreram consequências emocionais devastadoras quando evacuadas durante a guerra receberam muita atenção nos Estados Unidos. As autoras observavam que o elemento-chave para explicar a regressão em crianças era o modo abrupto como foram separadas de suas famílias e meios. Nos Estados Unidos, porém, muitos analistas de criança centraram-se apenas na ausência da mãe como fator deletério principal. Essa visão se encaixava bem nos trabalhos anteriores que enfatizavam a necessidade de cuidado e amor maternos que teria a criança — trabalhos que adquiriam então uma nova relevância. Os psicanalistas David Levy, René Spitz, Margaret Ribble e Therese Benedek apresentaram, todos eles, as necessidades emocionais da criança como urgências instintuais naturais que uma mãe precisa satisfazer a fim de que o filho desenvolva uma personalidade saudável. Em 1950, o relatório do psiquiatra e psicanalista britânico John Bowlby, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sustentou que o desenvolvimento psíquico de uma um criança depende da qualidade emocional dos cuidados maternos que ela recebe (Freud & Burlingham, 1943; Levy, 1937; Spitz, 1945, 1946a, 1946b; Ribble, 1943; Benedek, 1949; Bowlby, 1951).

Esses estudos sobre os efeitos deletérios da falta de amor materno coexistiram com uma onda de trabalhos concernindo aos perigos do amor materno em demasia. Ao mesmo tempo que afirmava a necessidade vital de amor materno tida pelas crianças, David Levy publicou, com grande aclamação crítica, o seu livro Maternal Overprotection [Superproteção materna], argumentando que amor materno demais resultava em indivíduos imaturos. O bem-sucedido escritor ficcional Philip Wylie cunhou uma palavra para identificar o que ele considerava uma moléstia americana peculiar: o momism [mamãenhismo] (Levy, 1943; Wylie, 1942).[7] As mamães eram mães dominadoras que cerceavam a virilidade do filho. O livro de Wylie, Generation of Vipers [Geração de víboras] tornou-se um sucesso de vendas após sua publicação em 1942. Juntamente com a versão em brochura, de 1959, ele passou por ao menos trinta tiragens Buhle (1998, p. 127). Alguns cientistas também adotaram o termo “mamãenhismo”. Em seu livro Their Mothers’ Sons: The Psychiatrist Examines an American Problem [Filhinho de mamãe: o psiquiatra examina um problema americano], de 1946, Edward Strecker — diretor do Departamento de Psiquiatria na Universidade da Pennsylvania, consultor em cirurgia geral do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e conselheiro da Secretaria de Guerra — apresentou as mamães como causa da imaturidade dos homens americanos. Assim como os seguidores do movimento da personalidade e da cultura, Strecker (1946) localizou no comportamento dos genitores — em especial, as mães — a fonte de ideologias sociais como o fascismo.

Em suma, um conjunto variado de trabalhos apresentava a mãe como principal agente responsável pelo desenvolvimento emocional dos filhos. De acordo com esse ponto de vista, os problemas emocionais das crianças resultam de desvios patológicos do papel natural da mãe. Mais alarmante ainda: uma maternidade inadequada resulta não apenas em psicopatologias, mas também em sociopatologias. Se o caráter de um nação depende da personalidade de seus membros individuais, e se as mães determinam o caráter emocional deles, era quase uma conclusão lógica que as mães eram, em última instância, responsáveis pela sina de uma nação.

A mudança em direção às emoções e à mãe como berço do si-mesmo emocional maduro é claramente apreciada nos mais influentes estudos sobre o caráter americano publicados nos primeiros anos da Guerra Fria. Em seu livro The American People. A Study of National Character [O povo americano: um estudo do caráter nacional], de 1948, Gorer também culpou as mamães pela catastrófica feminização da sociedade americana. Enquanto o pai era a figura dominadora na Europa, “a mãe grudenta é a grande ameaça emocional na vida psicológica americana”, argumentou Gorer (1948, p. 64). Outro amigo de Margaret Mead, o analista leigo Erik Erikson, tornou-se uma respeitada celebridade acadêmica e cultural graças ao seu livro Childhood and Society [Infância e sociedade], de 1950. Erikson apresentou um modelo universal para o crescimento psicológico humano. No primeiro estágio, por meio da relação com a mãe, o bebê desenvolve um senso de confiança básica que é alicerce do desenvolvimento emocional saudável. Mas Erikson criticava as mães americanas por “padronizarem e superajustarem as crianças, das quais depois se esperava que personificassem essa individualidade muito viril que, no passado, havia sido uma das características marcantes do americano”. Para Erikson (1950, p. 254), o mamãenhismo era “tão somente um paternalismo extraviado”, resultado do fato de que os pais haviam “abdicado de seu lugar dominante na família.”

A importância dessa visão de que o desenvolvimento cognitivo e social dependia do desenvolvimento afetivo, devidamente administrado pela mãe, pode ser apreciada na Conferência da Casa Branca sobre Crianças realizada em 1950. Ao passo que as reuniões anteriores haviam abordado aspectos econômicos e sociais da infância, essa conferência teve como foco a formação da personalidade. Os debatedores — que incluíam Erikson, Levy, o pediatra Benjamin Spock e o antropólogo Ashley Montagu — abordaram a pergunta do momento: “Como podemos criar uma geração emocionalmente sadia?” Um dos objetivos da conferência era sintetizar as ideias desenvolvidas por pessoas como Levy, Erikson e Bowlby, para que alguém como Spock pudesse “traduzi-las” em prescrições para a população geral (Senn, 1950, pp. 13, 14). Spock havia sido aluno do Instituto Psicanalítico de Nova York, onde Levy lecionava, e também era amigo e pediatra da filha de Margaret Mead. Em seu livro Baby and Child Care [O cuidado de bebês e crianças], que foi um sucesso de vendas, Spock (1946) enfatizou o papel da mãe no desenvolvimento emocional do filho e falou sobre o desenvolvimento como um processo natural que precisava respeitar os instintos da criança.[8]

Esses cientistas apresentaram a relação mãe-criança num linguajar que foi central para uma visão Fria do mundo. A necessidade básica da criança é a segurança. Para consegui-la, ela precisa construir um senso de confiança, que é cimentado pela primeira vez no relacionamento com a mãe. Sobre esse alicerce, a criança se desenvolve de forma natural num indivíduo emocionalmente maduro — o que, basicamente, significa: autoconfiante; independente; sociável o suficiente para ser parte de uma comunidade, mas não de forma a ser susceptível a doutrinamento ou manipulação. O indivíduo maduro garantiria, assim, uma estabilidade social para o futuro, bem como uma continuidade com o passado, na medida em que essa visão da díade mãe-criança também requeria papéis de gênero claramente divididos no interior da família tradicional. Por outro lado, um desequilíbrio do amor materno — em demasia ou pouco demais — resulta em crianças que colocariam a estabilidade da sociedade em perigo.

Dada a importância dessa concepção específica da criança durante esse período, não penso ser exagero falar da criança como “uma arma da Guerra Fria”, como faz Nicolas Sammond (2005, p. 252). Isto fica mais claro no contexto das preocupações domésticas com a estrutura da família e, especificamente, com o impacto apresentado pelas mulheres que tinham filhos pequenos e trabalhavam fora.

Amor materno natural: o melhor projeto da natureza para a melhor sociedade

Como documentaram os historiadores, a família nuclear recebeu um novo impulso durante o final dos anos 1940, graças à necessidade individual de segurança, à ênfase social no sentimento de unidade e às decisões políticas com vistas a proporcionar auxílio econômico aos homens, através da “G.I. bill”[9], bem como à decisão de descontinuar as limitações ao subsídio à assistência infantil que o governo federal havia imposto durante a guerra. As duas décadas antes da guerra haviam assistido a um declínio das taxas de matrimônio e natalidade; porém, durante e depois da guerra, a taxa de matrimônios subiu e a de natalidade atingiu o nível mais alto em vinte anos (Mintz & Kellog, 1988, p. 154; Cott, 2000, p. 190)

No entanto, outros números logo revelaram que homens e mulheres não estavam se ajustando facilmente à situação do pós-guerra nem uns aos outros. Ao passo que, em 1940, um a cada seis casamentos terminava em divórcio, por volta de 1946 era um a cada quatro. Um milhão de veteranos estavam divorciados por volta de 1950.[10] A despeito da prosperidade econômica sem precedentes, da insuperável variedade de utensílios de cozinha e dos subúrbios em expansão, a imagem superficial da alegria doméstica encobria profundas angústias relacionadas à estabilidade familiar. Preocupações com a delinquência juvenil estavam no auge em meados dos anos 1950, assim como os debates acerca dos papéis das mulheres na nova ordem do pós-guerra.

As consequências das mães trabalhando fora se tornaram uma das preocupações centrais nesses debates. As sociólogas Alva Myrdal e Viola Klein argumentaram que uma “revolução silenciosa” havia ocorrido em meados de 1950. Um número cada vez maior de mulheres casadas e de diferentes classes sociais estava entrando para a força de trabalho, e não por necessidade econômica. Entre 1940 e 1960, o número de mulheres casadas que possuíam trabalho dobrou e o percentual de mães trabalhadoras aumentou 400%. Mais de quatro milhões de mulheres casadas começaram a trabalhar, representando 60% dos novos trabalhadores. Em 1940, as mulheres casadas ocupando postos de trabalho eram principalmente da classe operária; no fim da década de 1950, muitas esposas trabalhadoras eram instruídas e de classe média (Myrdal & Klein, 1956, pp. 78, 82-83). Contudo, o governo federal havia posto fim às limitações no subsídio à assistência infantil que haviam sido impostas durante a II Guerra Mundial. Alguns historiadores observaram que, no início da Guerra da Coreia, a carência de serviços de assistência infantil havia atingido proporções críticas.

A questão da assistência infantil em grupo também possuía conotações de Guerra Fria. O estado soviético muitas vezes apresentava imagens da mulher operária como emblema do sucesso de um revolução por igualdade. Com a operária vinham os centros de assistência da criança onde os comunistas educavam — ou doutrinavam — os seus futuros cidadãos. Os cientistas sociais prestaram considerável atenção à criação dos filhos do outro lado da Cortina de Ferro. Em seu estudo das posturas soviéticas com relação à autoridade, Margaret Mead (1951) recorreu ao trabalho de Elena Calas sobre os ideais soviéticos de formação da criança, bem como à sua importância política. Como membro de uma delegação que visitou a União Soviética para explorar a conjuntura da psicologia, o psicólogo Urie Bronfenbrenner (1970) também realizou extensivas observações sobre as práticas comunistas de criação dos filhos.[11]

Nos EUA, a mãe trabalhadora não era figura de progresso. Apesar do fato de historiadores como Joanne Meyerowitz (1993, pp. 1455-1482) terem mostrado que as mensagens enviadas às mulheres nos anos 1950 eram variadas e às vezes conflitantes, é difícil encontrar cientistas sociais que apoiavam as mães que trabalhavam. Por exemplo, em 1954, Lawrence K. Frank e Mary Frank publicaram How to Be a Woman [Como ser uma mulher]. Lawrence Frank era diretor do Instituto de Desenvolvimento Humano Caroline Zachory, ex-presidente do Conselho Nacional das Relações Familiares, havia sido alto funcionário do Memorial Laura Spelman e do Conselho Geral de Educação da Fundação Rockefeller, e também da Fundação Macy — onde, antes da guerra, havia atuado como grande defensor do movimento da personalidade e da cultura, bem como do campo do desenvolvimento infantil. Agora, os Franks observavam que as esposas trabalhadoras que se tornavam mães enfrentavam uma “crise real”. Eles incentivavam as mulheres a encontrar alternativas, como um trabalho de meio período ou um que elas pudessem realizar de casa, como datilografar ou pintar azulejos.[12]

As discussões na imprensa popular apelava para pesquisas sobre privação materna para justificar papéis de gênero tradicionais na parentalidade. No New York Times, um professor de relações humanas apontou para o importante trabalho do “Dr. Bowlby”, “cujo impressionante e bem-documentado relatório para os especialistas mundiais em saúde mental indicava a privação materna como sendo a principal causa de transtornos de personalidade sérios.” O Ladies Home Journal organizou uma mesa para debater se as mães de crianças pequenas deveriam trabalhar. Além do próprio Bowlby, os participantes da mesa incluíam o Secretário do Trabalho dos EUA, James P. Mitchell, a socióloga Mirra Komarovsky, dentre outros. Mitchell observou que as mulheres americanas precisavam ser parte da força de trabalho para conservarem os respectivos padrões de vida e contribuírem para a defesa nacional. Mas ele também alegou que “nação alguma deveria se esquecer de que a base mais primária e fundamental de uma sociedade livre é a estrutura familiar — o lar —, e o trabalho mais vital está lá.” Será, então, que se deveria negar às mães a opção de trabalhar? Mitchell não estava disposto a negar às americanas essa liberdade: “Penso ser muito acertado que nós, neste país, tenhamos liberdade de escolha, diferentemente do mundo comunista, onde isso não existe.” Não obstante, ele esperava que as mulheres trabalhadoras não se tornassem mães, visto que o lugar da mãe era “no lar”. A escolha era, de fato, uma palavra-chave para defender a superioridade de uma sociedade democrática em contraposição ao modelo autoritário e regimentado do bloco soviético. No entanto, não fica claro se as mães que foram informadas — como Bowlby as informa nesse artigo — de que crianças privadas de maternagem iriam crescer com ódio e desconfiança, resultando numa vida de vadiagem e promiscuidade, possuíam qualquer liberdade de escolha, no final das contas.[13]

Outros cientistas sociais também corroboravam a visão de que mães trabalhadoras eram nada menos que uma tragédia. A tragédia da mulher americana, sustentou o antropólogo Ashley Montagu (1958, p. 14), era o fato de ela pensar, equivocadamente, que a igualdade de direitos implicava identidade de função.[14] Montagu, que havia intitulado um de seus livros The Natural Superiority of Women [A superioridade natural das mulheres], recomendava o relatório de Bowlby como algo que mostrava que os bebês precisavam de amor materno (Montagu, 1952; 1953, p. 4). Embora num de seus escritos ele fizesse a observação de que quem maternava a criança não tinha de ser a mãe biológica, noutros ele também defendeu claramente uma divisão tradicional dos papéis parentais em casa: “Considero um axioma o fato de que nenhuma mulher com marido e crianças pequenas pode ter um trabalho em tempo integral e ser boa dona-de-casa ao mesmo tempo” (Montagu, 1962/1975, p. 13; Montagu, 1958, p. 34). O sociólogo Talcott Parsons, de Harvard, forneceu igualmente uma justificativa funcional para os papéis de gênero. Também ele um dos primeiros que se converteram à ideia de que qualquer distorção séria das posturas emocionais da mãe pode ser seriamente perturbadora para a criança, Parsons alegava que, na família nuclear, o pai era o “superior instrumental” e a mãe, “a superior expressiva.” A função instrumental concernia à relação do sistema familiar com a situação externa, ao passo que a área expressiva concernia aos assuntos internos do sistema, tais como a “manutenção de relações integrativas entre o membros e a regulação dos padrões e níveis de tensão de seus componentes” (Parsons, 1955, pp. 46, 47; cf. Breines, 1986, pp. 69-92).

O apelo científico aos instintos naturais dos bebês tornou-se elemento crucial na justificativa funcional para papéis parentais distintos. Os pesquisadores entendiam por “instinto” coisas diferentes, desde a concepção psicanalítica de pulsão como energia mental até vagas referências a necessidades biológicas. Durante a Conferência da Casa Branca de 1950, Montagu disse a Erikson que os psicólogos haviam abandonado a palavra “instinto” trinta anos atrás, mas Erikson retorquiu dizendo ser psicanalista (Senn, 1950, p. 19).[15] Erikson tinha razão em pontuar a diferença; porém, também havia muitos analistas de criança que trabalhavam com a privação materna e incentivavam um entendimento biológico das necessidades instintuais falando do amor materno como sustento necessário ao desenvolvimento emocional, e até mesmo físico, e utilizando metáforas que equiparavam o amor materno a um nutriente, como vitaminas ou proteínas. Além disso, em meados dos anos 1950, muitos estudiosos do comportamento dos bebês, como Benedek, Spitz e Bowlby, recorreram ao conceito biológico de instinto tal como desenvolvido por Konrad Lorenz e Niko Tinbergen, estudiosos do comportamento animal europeus. Aqui, vou me concentrar apenas nas visões de Bowlby, visto que ele foi o principal arquiteto da teoria mais bem-sucedida acerca das raízes biológicas do amor materno e do amor pela mãe.

Bowlby era particularmente interessado nos estudos de Konrad Lorenz acerca da estampagem em gansos e patos. Estampagem é o processo pelo qual alguns tipos de ave seguem o primeiro objeto que veem se movendo tão logo saem do ovo. Em circunstâncias normais, esse objeto é a mãe. Se a estampagem ocorre sobre outro objeto, contudo, a ave não desenvolverá um repertório comportamental padrão de sua espécie. Incentivado por Lorenz, Bowlby extrapolou algumas ideias etológicas à díade mãe-bebê. Em seu clássico artigo de 1958, “The Nature of the Child’s Tie to His Mother” [“A natureza do laço da criança com a mãe”], Bowlby apresentou sua teoria das Respostas Instintuais Componentes, posteriormente conhecidas como a “Teoria Etológica do Apego.” Ali, Bowlby postulava que o comportamento de apego é composto da integração de várias “respostas instintuais componentes que são, no início, relativamente independentes uma da outra. As respostas instintuais amadurecem em diferentes momentos no decorrer do primeiro ano de vida e se desenvolvem em ritmos diferentes; elas servem à função de vincular a criança à mãe e contribuem para a dinâmica recíproca de vincular a mãe à criança.” Cinco respostas instintuais abrangiam o comportamento de apego. O bebê era o parceiro ativo ao chupar, agarrar e seguir. As outras duas, chorar e sorrir, serviam para “ativar o comportamento materno.”[16]

Para exemplificar como o sistema de disparadores sociais e instintos trabalhava na vinculação da criança à mãe, Bowlby indicou o sorriso do bebê : “[…] por mais ativado que seja, como um disparador social de comportamento materno ele é poderoso. Acaso podemos duvidar de que quanto mais e melhor um bebê sorri, mais é amado e cuidado? É uma sorte, para sua sobrevivência, que os bebês sejam projetados pela Natureza de tal maneira que seduzem e escravizam as mães.” Consequentemente, para Bowlby (1958, p. 367), “a natureza do laço da criança com a mãe” era um vínculo natural requerido para a sobrevivência da espécie. Assim, ele defendia que o vínculo mãe-bebê é vitalmente importante apelando para as escolhas da natureza.

Ademais, os proponentes da ideia da natureza humana como projetada por nossa história evolutiva estearam sua posição politizando questões de evidência empírica. Nem todos os cientistas sociais concordavam que as crianças nasciam com uma necessidade inata de amor materno. Na década de 1950, os psicólogos Samuel Pinneau (1950, pp. 203-228; 1955, pp. 429-452) e Lawrence Casler (1961, pp. 1-63) apresentaram profundas desaprovações à pesquisa sobre privação materna. Nos anos de 1960, psicólogos infantis criticaram estudos nessa mesma área. Mas apelando à autoridade dos estudos biológicos, Bowlby argumentou que apenas agentes com interesses próprios poderiam rejeitar as suas opiniões por razões não científicas e socialmente suspeitas:

Sempre que ouço a questão da privação materna sendo discutida, encontro dois grupos com declarado interesse em derrubar a teoria. Os comunistas são um, pela óbvia razão de que precisam de suas mulheres no trabalho e, portanto, os filhos devem ser cuidados por outras pessoas. As mulheres que trabalham são o segundo grupo. Elas, na verdade, negligenciam as suas famílias. Entretanto, é a última coisa que querem admitir (Bowlby apud Ringold, 1965, p. 59).

Vincular a ênfase no papel do ambiente às políticas de esquerda era um estratégia-padrão entre os defensores dos instintos no comportamento humano. Já em 1947, Wylie — anticomunista fervoroso, ferrenho defensor do controle das armas atômicas pelos EUA, consultor especial da Administração de Defesa Civil federal, conselheiro da Comissão para Energia Atômica e defensor do programa estadunidense da bomba de hidrogênio — já havia utilizado suas habilidades literárias para predicar a mensagem de que “o homem é um animal.” Influenciado pelo psicanalista Carl Jung e pelas opiniões tardias de Lorenz sobre os instintos, Wylie defendia as ideias daqueles que haviam estabelecido “a hipótese geral do instinto humano, de todos os deuses, de todas as religiões, de todos os vermelhos e comportamentalistas, não obstante o contrário.” Ele também via os ataques aos instintos como motivados por considerações políticas. Quem quereria banir os instintos? “Os liberais, e mais particularmente os socialistas, e mais especialmente os comunistas”, respondeu Wylie (1947, pp. 65, xiii, 19, 12, 24).[17]

Como já mostrei noutra oportunidade, Bowlby, Lorenz, Spitz e Wylie utilizavam muitas “estratégias de Guerra Fria” para defender seus pontos de vista. Eles rotulavam os seus oponentes de “comunistas”. Também evocavam cenários apocalípticos acerca dos perigos para a sobrevivência da espécie humana. Assim, incentivavam uma visão do comportamento social humano como um sistema funcional construído pela seleção natural de tal modo que quaisquer mudanças teriam consequências custosamente disruptivas (Vicedo, 2013).

Dessa forma, as preocupações e a retórica da Guerra Fria possibilitaram a ascensão de um funcionalismo que não foi erigido sobre as antiquadas visões acerca das diferentes capacidades dos homens e das mulheres, mas sobre as necessidades naturais das crianças. As inquietações da Guerra Fria com o controle do comportamento e a desintegração da ordem social estabelecida contribuíram para o apelo de fundamentos evolutivos para a ordem social. O sucesso do funcionalismo poderia agora ser garantido pela concepção de relações sociais como uma questão de projeto que havia provado o seu valor por meio da sobrevivência da espécie.

Enquadrar o amor como um instinto biológico necessário à saúde mental das crianças e à sobrevivência da humanidade teve ao menos duas consequências importantes. A primeira, para a mãe: introduziu uma torção naturalista à lógica do funcionalismo de tremendo poder emocional. Segundo: respaldou uma visão da natureza humana que só pode ser moderada sob o risco de destruição. Essa visão da díade mãe-criança como resultado de uma história evolutiva que havia projetado o melhor sistema para garantir estabilidade emocional para as crianças ressoou profundamente com as preocupações da Guerra Fria acerca da importância de reconhecer o poder da socialização, enquanto também assumia fronteiras naturais que derrotariam as crenças socialistas ou comunistas acerca da completa modificabilidade da natureza humana.

Uma medida do sucesso dessa naturalização da necessidade de amor materno que teriam as crianças pode ser apreciada no Childhood in Contemporary Culture [A infância na cultura contemporânea], de Margaret Mead, publicado pela primeira vez em 1955. Ali, Mead observou: “Estamos chegando a uma nova apreciação da relação entre ‘cultura’ e ‘natureza’, das formas pelas quais os nossos sistemas de comportamento aprendido são mais seguros que uma confiança no equipamento biológico, bem como a uma apreciação do risco em negar o que está biologicamente dado […]” No começo do livro, falando sobre as “recorrentes similaridades biológicas” entre culturas, Mead listou “relacionamentos genitor-criança” junto com o crescimento, as necessidades, os medos e demais aspectos da vida humana (Mead & Wolfenstein, 1955, pp. 451, 7).

Mead não aceitava totalmente a visão biológica do amor materno proposta por Bowlby e Lorenz, especialmente quando utilizada para justificar a família patriarcal como único modelo a assegurar a sobrevivência da espécie humana. Ela participou com eles de muitas conferências sobre desenvolvimento infantil e etologia, assim como de uma série de conferências sobre evolução e comportamento. No entanto, continuou crítica às tentativas de justificar as construções sociais de qualquer sociedade apelando à evolução biológica. Não obstante, ela se aproximou mais da biologia do que iriam reconheciam muitos críticos de seu suposto “ambientalismo radical”.[18] Talvez isto não seja de todo surpreendente, visto que, como tentei mostrar aqui, a crescente aceitação de explicações biológicas nas ciências sociais muito deviam ao modo como os estudos antropológicos fizeram da criação dos filhos o primeiro centro de explicações e avaliações de ordens sociais concorrentes.

Conclusão

As preocupações da Guerra Fria com a socialização das crianças desempenharam um papel crucial no incentivo ao interesse pelos estudos da personalidade e da cultura que uma série de cientistas sociais havia iniciado nos anos 1930. Estabelecendo um elo entre a criação dos filhos, a personalidade e as ordens sociais, esses trabalhos incentivaram o reconhecimento da importância social do desenvolvimento da criança. Uma série de obras psicanalíticas então postulou a díade mãe-criança como o berço do si-mesmo emocional. No contexto das preocupações sociais do pós-guerra com o modelo tradicional da família — que foram exacerbadas pelos divórcios, pela delinquência juvenil e pelo maior aumento no número de mães de crianças pequenas trabalhando fora —, um crescente discurso acerca das necessidades naturais de amor materno que teriam as crianças ajudou a justificar a manutenção de papéis parentais baseados no gênero.

Os estudos das emoções, e especificamente do papel do amor materno no desenvolvimento da criança, adquiriram uma visibilidade sem precedentes durante o período inicial da Guerra Fria, porque estabelecer a supremacia internacional parecia depender da construção de uma ordem social interna que asseguraria cidadãos estáveis capazes de resistir ao engodo do comunismo e das ideias subversivas. Para tanto, os cientistas sociais precisavam entender a motivação e o comportamento humanos. Eles se lançaram ao estudo de como os indivíduos desenvolviam a capacidade de agressão e cooperação, de racionalidade e irracionalidade, de sociabilidade e submissão. Neste volume, Nadine Weidman (2012, pp. 215-232) mostrou como discussões sobre agressão, gênero e raça foram centrais ao entendimento da natureza humana durante esse período. Hunter Heyck e Howard Brick (Heyck & Brick, 2012, pp. 155-172) examinaram como os cientistas sociais construíram naturezas humanas que poderiam ser controláveis: o modelo seletor delimitado que facultaria uma decisão racional e a construção de um modelo evolutivo que garantiria progresso cultural.

Aqui, esbocei a ascensão de um outro modelo do comportamento humano durante os primeiros anos da Guerra Fria. Esse modelo considerava o comportamento humano como sendo o resultado de um processo evolutivo biológico que havia projetado as fronteiras do bom funcionamento humano. Argumentei que uma visão naturalizada do amor materno contava com — e contribuía para — essa visão da natureza humana. Além disso, tentei mostrar que o seu desenvolvimento devia muito às primeiras tentativas de compreender o papel das emoções no comportamento humano, mas foi alimentado pelos medos da Guerra Fria acerca da estabilidade das sociedades democráticas. As emoções, caso não canalizadas adequadamente, desestabilizariam o desenvolvimento individual e, consequentemente, minariam o equilíbrio cruzado entre as ordens natural e social.

Assim, creio eu, podemos dizer que a construção de um nexo entre o amor materno, a maturidade emocional e a estabilidade de uma ordem democrática era uma questão da Guerra Fria. A ciência do amor materno foi moldada pela sociopolítica da Guerra Fria e também teve consequências sociopolíticas, na medida em que essa ciência foi utilizada para justificar diferentes papéis emocionais e sociais para homens e mulheres.

[1] Meus agradecimentos aos membros da oficina sobre ciência social da Guerra Fria pelos comentários perspicazes, especialmente a Andrew Winston e Mark Solovey. Agradeço também o Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais e Humanas do Canadá pelo apoio financeiro à minha pesquisa.
[2] Para discussões de diferentes modos de conceituar a Ciência da Guerra Fria, cf. Heyck & Kaiser (2010) e Solovey (2012).
[3] A cifra de três milhões vem de Eugene Meyer, em seu prefácio a Strecker (1946, p. 6).
[4] Sobre a ênfase em questões psicológicas após a II Guerra Mundial, cf. Herman (1995). Sobre a esperança de que os cientistas sociais ajudassem a solucionar problemas sociais, cf. Solovey (2013).
[5] Máxima atribuída a Oliver Cromwell: “Confia em Deus e conserva seca a tua pólvora”. (N.T.)
[6]Todos estes volumes — Mead (1942), Benedict (1946/2019), Gorer & Rickman (1949), Mead (1951) — faziam parte de uma série de publicações apresentando pesquisas apoiadas pela Rand Corporation. [Com relação a Adorno et. al. (1950), uma seleção dos textos originais escritos por ele encontra-se traduzida em português brasileiro como: Estudos sobre a personalidade autoritária. Trad. F. L. T. Correa, V. H. F. da Costa, C. H. Pissardo. São Paulo: Editora Unesp, 2019 (N.T.)].
[7]
Sobre as opiniões de Wylie sobre maternidade, cf. Buhle (1998); cf. também: Plant (2010).
[8] Sobre a visão de mundo de Spock, cf. Graebner (1980, pp. 612-629).
[9] A “G.I. Bill”, como é chamada a Lei de Reajuste dos Servidores de 1944, trata dos benefícios educacionais obtidos por veteranos e suas famílias nos EUA. (N.T.)
[10] Cf. também: Mintz & Kellog (1988, pp. 170-171).
[11] Bronfenbrenner visitou a União Soviética em 1960 e em 1961 com auxílio da Fundação Nacional de Ciência, da Fundação Russell Sage e do Comitê de Estudos Sociéticos da Universidade de Cornell, conforme relatado na p. vi.
[12] A literatura sobre mulheres na era do pós-guerra é enorme; para referências, cf. Meyerowitz (1994). Cf. também: Plant (2010); Frank & Frank (1954, p. 69). Sobre Frank, cf. Bryson (1998, pp. 401-421).
[13] “That woman in gray flannel: A debate”, New York Times, 12 de fevereiro de 1956, SM114. “Should mothers of young children work?”, Ladies Home Journal, n. 75 (novembro de 1958), pp. 58-59; 154-156; 158-161. Todas as citações encontram-se na p. 59.
[14] Sobre Montagu, cf. Weidman (2012, pp. 215-232).
[15] Cf. também pp. 64-70, para uma discussão sobre “instintivo” e “instintual.”
[16] Sobre o apoio de Lorenz às opiniões de Bowlby, cf. Vicedo (2009, pp. 263-291); Bowlby (1958, p. 351).
[17] Para Wylie como combatente da Guerra Fria, cf. Rogin (1984, pp. 10-36). Para uma discussão sobre o filme com a mãe mais monstruosa do período da Guerra Fria, cf. Carruthers (1998, pp. 75-94). Nesse filme, encontramos a mais famosa representação no cinema da mãe fria, racional, mecânica — e comunista — que emascula o filho e ameaça a ordem democrática.
[18] Cf., por exemplo, Mead (1958, p. 489; 1954, pp. 471-483; 1966, pp. 34-40).

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Marga Vicedo

Professora associada do Instituto de História e Filosofia da Ciência e da Tecnologia da Universidade de Toronto

Paulo Sérgio de Souza Jr

Psicanalista e tradutor. Bacharel e doutor em linguística pelo IEL-Unicamp, foi tradutor residente no Instituto Cultural Romeno de Bucareste e professor associado na Faculdade de Letras da Universidade Alexandru Ioan Cuza de Iași, também na Romênia. Coordena a pequena biblioteca invulgar na Editora Blucher e é um dos editores da Lacuna: uma revista de psicanálise.

[Traduzido por Paulo Sérgio de Souza Jr. do original “Cold War Emotions: Mother Love and the War over Human Nature” In: Mark Solovey & Hamilton Cravens, Cold War Social Science Knowledge Production, Liberal Democracy, and Human Nature. New York: Palgrave Macmillan, 2012, pp. 233-249]