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04_Psicanálise: ocupação ou um puxadinho da história?

Clarice Pimentel Paulon

O lugar da psicanálise

Falar sobre o lugar da psicanálise em determinado espaço sempre se concretiza a partir de um incômodo (Freud, 1919/2021). Essa sensação se dá porque a psicanálise se constitui de forma anômala[1] nas suas relações, sejam elas públicas ou privadas. No espaço público, articula-se ao Estado, por exemplo, sem participar diretamente de suas políticas como uma prática regulamentada. Já no espaço privado, apresenta-se como uma terapêutica baseada na escuta de foro íntimo o que, dentro de uma sociedade capitalista, muitas vezes significa escuta em espaços fechados, reclusos, entre quatro paredes.

Participa sem se regulamentar –o que pode significar sem se submeter, mas também sem compor –; escuta sem se posicionar antecipadamente – o que pode significar liberdade e, também, alienação ou exclusão de determinadas relações. Essa situação anômala se encontra na forma como entendemos a origem da psicanálise e contamos a sua história: temos um Freud médico, excluído da medicina por sua construção visionária (e a produção de uma perspectiva elitista/individualizante) e um Freud judeu, que se esforçou para que sua teoria não fosse marginalizada assim como sua religião (e a produção de uma perspectiva social/comum)[2]. Essa dupla inscrição, quando da ausência de historicização e apreensão de seu caráter dialético, causa confusões em sua leitura que misturam a episteme e a prática psicanalíticas ao seu cerne ideológico de origem: a modernidade vienense (Le Rider, 1993). Seria possível realizar aqui uma separação de suas episteme e teoria, alienando a psicanálise a outras construções ideológicas? Ou seja, seria possível uma psicanálise que, levando em conta o cerne de suas condições de produção, não apontasse a cura e o método tão adaptados, ideologicamente, à pessoa Freud e sim, a sua produção teórica e crítica? 

Sabemos que a psicanálise, nos espaços que circula, contribui para pensar a cultura, a sociedade e as relações. Temos notícia também de diversas atuações em psicanálise distintas desse lugar de origem: desde a cátedra de Psicanálise na universidade ocupada por Sándor Ferenczi, na Hungria, no curto espaço de tempo em que esse país seguiu o regime socialista (Mészáros, 1998), até as clínicas públicas, como a Policlínica de Berlim (Danto, 2019), e os desenvolvimentos freudo-marxistas que articulavam psicanálise e política (Reich, Otto Fenichel, Eric Fromm são alguns expoentes).

Do lado de cá do oceano, na América Latina, temos toda uma trajetória de articulação entre psicanálise e política na Argentina (Pichón Rivière, Bléger e Langer, por exemplo); temos o IBRAPSI – Instituto Brasileiro de Psicanálise, Grupos e Instituições, fundado por Baremblitt, que articulava psicanálise, política e marxismo (Hur, 2014); temos releituras diversas que articulam psicanálise, antropologia e ciências sociais (Lélia Gonzalez, Rita Segato, por exemplo). Por fim, temos psicanalistas atuantes e pensantes no SUS (Abílio Costa-Rosa, Teresa Endo, Antônio Lancetti, entre tantos outros); a psicanálise como forma e teoria da subjetividade para se pensar a gestão e a organização do SUS e da saúde coletiva (Rosana Onocko Campos sendo um de seus mais fortes expoentes); e também as clínicas públicas, abertas, nas praças do Brasil, além de seu movimento de periferia (Perifanálise, Psicanálise Periférica, em São Paulo, por exemplo). A questão que fica é: por que se entende essa psicanálise como subversiva? Seria uma leitura ideológica sobre o cobre e o ouro da psicanálise tal como preconizou Freud em 1919? Por que não, apenas, psicanálise?

Um dos textos que mais contribuíram para essa discussão na minha trajetória foi “O que será um psicanalista?” (Bairrão, 2000). Nele, Bairrão afirma que diz do futuro, dado que o psicanalista é sempre uma função ou algo que virá a ser, a partir do exercício do psicanalisar. E que isso se dá, também, pelo caráter jovem dessa disciplina. Ele divide a psicanálise em cinco perspectivas possíveis: a psicanálise como ciência, como ofício, como religião, como arte e, por fim, como ética, apresentando – e eu, defendendo – essa última, dado que, para pensar o estatuto da psicanálise é necessário saber o que é psicanalisar. E psicanalisar seria mudar o destino. Diz o psicanalista:

Lacan ensina que, para além do patamar comunicativo e das figuras de estilo, a Palavra cifra o horizonte do tempo de vir a ser de cada sujeito, o seu destino. O destino cifra-se em palavras atuantes no (do) acontecer do sujeito (Bairrão, 1996). O que se encontra em análise não é um autoconhecimento. É o próprio ser, em devir. […] em análise o sujeito encontra-se ser, mas insubstantivo, feito de atos, temporalmente produtores de sentido: “É que ao tocar, por pouco que seja, a relação do homem ao significante… muda-se o curso de sua história modificando as amarras de seu ser” (Lacan, 1966, pg. 527). As duas teses – analisar é transformar o ser e o que se atinge é o destino – ao se combinarem, uma vez que ser é “feito significante” que sucede temporalmente, permitem deduzir que no ato analítico (na medida que se atingem as “cordas significantes” que são as “amarras” do ser do sujeito) muda-se o destino (Bairrão, 1996). Logo, analisar é mudar o destino. (Bairrão, 2000, pp. 10-11)

Bom, e qual o lugar onde mudamos o destino? É necessário um lugar fechado? É necessário que exista monetarização? É algo que se faz de indivíduo a indivíduo? Ou é possível que essa escuta do inconsciente seja feita a partir, como diz Lacan (1958/1998), do reconhecimento da existência do sujeito; e este, bom… este está por aí. O que existe de subversivo nesse ato? A psicanálise seria uma ética dado que “visa o sujeito enquanto tal, como ser temporal, a transformar” (Bairrão, 2000, p. 15). Ainda no mesmo e fundante texto:

[…] a psicanálise seria como que uma ética “empírica”, em que os juízos, as interpretações, em última análise seriam validadas pelo sujeito enquanto acontecimento temporal (não dependeriam de uma concordância falada, mas do demonstrado em destino). (Bairrão, 2000, p. 15)

Psicanalisar, portanto, não se relaciona com algo que deve ser feito em um ambiente específico ou segundo critérios que estejam extrínsecos ao ato de testemunhar e escutar. A psicanálise pode atuar enquanto tal em consultórios, praças, parques, movimentos sociais, corredores de hospital, ruas, ou seja, ela pode estar em qualquer lugar onde se testemunhe o inconsciente e se dê destino a essa escuta transformadora. Ela não está comprometida a priori com nenhum recorte social e de conjuntura, por assim dizer.

Se, assim é, por que nossos protótipos de cuidado e escuta estão vinculados a determinadas condições sociais e de produção? E, ainda, por que nossa transmissão passa por tantas e tantas barreiras de especialidades para que se efetive? Aqui, defendo que não se trata de psicanálise, e sim de ideologia[3]. E, se se trata de ideologia, podemos apresentar outras, através das quais a psicanálise pode seguir atuando. Ideologias que comportem a psicanálise como um trabalho, articulado ao público e ao político, engajada com a transformação social – sem que isso soe subversivo, e sim corriqueiro, banal.

Urgência, emergência e políticas de Estado: fragmentos de Brasil

Como apresentado inicialmente, a psicanálise possui relações anômalas com o espaço público e privado. Essas relações anômalas se dão a perceber na querela da regulamentação, que presenciamos em 2021, a partir da apresentação de um curso de bacharelado em psicanálise, por uma universidade particular organizado por “não psicanalistas”[4]. O fato é que não conseguimos sair dessa anomalia por uma característica interessante dos mais diversos grupos de psicanalistas: o caráter totalizante e totalitário que se dá à psicanálise como visão de mundo, acima da política, da economia da história e de diversas outras disciplinas.

O exemplo fundamental desse argumento pode ser apreendido em Roudinesco (1995), que diria que a psicanálise não sobreviveria em regimes autoritários e ditatoriais porque trabalha com a associação-livre. Argumento que justifica, de maneira endogâmica, que a psicanálise, por sua episteme e prática, não se consolida em tais contextos. Essa hipótese é facilmente rebatida por teses que estudam a história da psicanálise no Brasil em regimes ditatoriais, como é o caso de Lima (2021) e Rubin (2021): ambas mostram os pactos de silêncio, acordos institucionais e, inclusive, reafirmação ideológica do período a partir de tratados psicanalíticos – como podemos encontrar em Lima, que apresenta, em sua tese, texto publicado em 1964 por Weissmann, psicanalista austríaco de nascimento que chega ao Brasil ainda na infância. O texto intitula-se: Masoquismo e Comunismo: contribuições para a patologia do pensamento político (Weissmann, 1964 apud Lima, 2021).

Ao observar que a psicanálise, enquanto prática no Brasil, ancorou-se principalmente a partir de uma relação liberal com o Estado – profissionais liberais, que, por mais que circulassem por hospitais públicos e outros espaços, sempre permaneceram fiéis à sua posição em consultórios –, Lima (2021) apresenta que, como categoria profissional, os psicanalistas permaneceram silentes – diria eu, omissos – ao golpe de 1964, assim como muitos outros profissionais liberais de outras áreas, dado que o regime militar pouco abalou seu cotidiano. Enquanto Instituição, a psicanálise também pouco se posicionou no início do golpe, inclusive, como bem aponta Lima (2021), contribuindo teoricamente para sustentar uma ideologia anticomunista e, assim, em alguma medida, endossando a necessidade de um golpe militar. Rubin (2021), de outra perspectiva, aponta também como as instituições psicanalíticas utilizaram-se da teoria para justificar o que acontecia nas ruas durante o regime militar – manifestações e atos – como infantil, associando atos políticos ao desenvolvimento psicossexual freudiano.

Seriam, portanto, as nossas teoria e prática tão isentas das ideologias a partir das quais são constituídas, em sua origem e no contexto em que são praticadas? É evidente, por exemplo, que a psicanálise se estabeleceu como prática de consultório porque Freud, seu fundador, era médico, e assim era seu trabalho cotidiano[5]. Não são poucos os textos em que ele apresenta, por exemplo, que a escuta se dá em um determinado intervalo de tempo por organização de rotina (Freud, 1916-17/2014); ou, ainda, que não entende bem de algumas subjetividades devido à sua ausência de atuação em instituições públicas, tal como enuncia no caso Schreber: “A investigação psicanalítica da paranoia oferece dificuldades especiais para nós, médicos não ligados a instituições públicas” (Freud, 1911/2010, p. 14).

É evidente, também, que dentro da própria teoria psicanalítica temos argumentos que possam rebater a impossibilidade de escuta da psicanálise em momentos de censura. Vejamos esse trecho de Lacan, em seu Seminário 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise: 

No momento em que se trata de algo dificilmente expressável, não só pelo fato de que o rei da Inglaterra é um babaca, mas por tudo o que está vinculado a isto, por tudo que faz com que ele não possa ser outra coisa senão um babaca, por toda a estrutura do regime, e, mais além, pela conivência universal com a babaquice do reino da Inglaterra. Pois bem, o súdito sonha que tem a cabeça decepada (Lacan, 1954-55/1987, p. 167).

Dado que a psicanálise, inclusive, trabalha continuamente em sua prática analítica, com a busca de traços, lapsos de memória, apagamentos e reconfigurações, não seria ela uma teoria que melhor trabalharia com as voltas possíveis de associação ocasionadas pelas diversas modalidades de censura[6]? Vemos que na ampla teoria psicanalítica cabem muitos posicionamentos distintos, quanto à interpretação e a lida de nosso dia a dia. Talvez fosse mais simples admitir que as questões históricas, políticas, ideológicas e econômicas atravessam a psicanálise, assim como atravessam diversas outras categorias, dentro de um regime econômico capitalista.

Um posicionamento distinto do endossamento da ideologia vigente pode ser visto, por exemplo, no famoso texto Pacto social, pacto edípico, de Hélio Pellegrino (1983). Vejamos um curto trecho:

Se o pacto social tem mão única, se os direitos do trabalho são desrespeitados e aviltados, ele pode romper-se, implicando essa ruptura gravíssimas consequências. A sociedade só pode ser preservada – e respeitada – pelo trabalhador na medida em que o respeite e o preserve. Se o trabalhador for desprezado e agredido pela sociedade, tenderá a desprezá-la e agredi-la, até a um ponto de ruptura. Na melhor das hipóteses, essa ruptura poderá levar o trabalhador a tornar-se um revolucionário. Ele rompe com a sociedade não para atacá-la cegamente, mas para transformá-la revolucionariamente, através da ação de massas. Em tal caso, a ruptura com o pacto social não chega a provocar a ruptura com a Lei da Cultura – ou Lei do Pai. Apesar da injustiça social, ou melhor, por causa dela, o revolucionário se apoia nas melhores e mais altas tradições e virtudes libertárias do seu povo. Nessa medida, mantém-se fiel ao seu Ideal de Eu e preserva, com isto, a aliança com o Pai simbólico. (p. 6)

Observemos, portanto, que as formulações psicanalíticas se alteram a partir do horizonte político que estabelecemos como cura ou solução. Não há como dizer se algo é mais ou menos psicanalítico, mas podemos falar de nossa luta política e do quanto ela diretamente influencia nossa prática clínica e o que autorizamos e percebemos como psicanálise. Podemos pensar, inclusive, nas tortuosidades teóricas que são construídas a partir de uma alienação e naturalização dos conceitos psicanalíticos a determinada ideologia:

Muitos mal-entendidos e embates desnecessários teriam sido evitados, por exemplo, se se tivesse compreendido, com a radicalidade requerida, que ao falar da função paterna está em jogo não a submissão a uma lei ou uma castração como subjugação, mas sim uma conquista dos filhos. Para a psicanálise, o pai é uma propriedade dos filhos e isso é literal (Bairrão, 2005). Porém, a sutil inversão da tese na forma de uma teoria infantilizante, que subordina o sujeito a um universal paterno trans-histórico, replica a subjugação social e colonial a uma entidade externa, não perfeita (no sentido de perfazer) à medida de um processo de apropriação e autodeterminação subjetiva mediada pelo simbólico e histórica e culturalmente diverso (OBEYESEKERE, 1996). (Bairrão, 2019, pp.70-71) [negrito da autora]

O liberalismo e o colonialismo alteram a nossa episteme e as condições que tornam nossa escuta possível: é preciso compreender, a partir de uma radicalidade necessária, no sentido de chegar-se à causa, à raiz, ao cerne da questão. O que podemos ver, portanto, é que a psicanálise está imersa na sociedade e no contexto que a constitui e que assegura ou não suas práticas, tornando-as reconhecidas, seja pelos pares (que elegemos), seja pela sociedade geral (que, de algum modo, excluímos, ao nos recusarmos a debater mais seriamente a regulamentação, por exemplo). Nossas relações tornam-se anômalas porque queremos mimetizar na “cidadania psicanalítica” o oito interior, o movimento moebiano da subjetividade, como se fosse possível estar dentro e fora da luta de classes.

A partir desse ponto, talvez seja importante refletir: qual o papel da psicanálise nas políticas públicas e no território, entendendo-a como parte necessária e consequente das relações sociais gerais? Nossa teoria, tal como diversas outras teorias da subjetividade e suas articulações com o campo social, pode tanto instrumentalizar formas de assistir à população quanto organizar e participar da gestão desses espaços, contribuindo para a formalização, enquanto lei e política pública, de determinada demanda social. Podemos dizer, a partir da teoria psicanalítica, que o papel da escuta nessa atuação seria a capacidade de historicizar emergências, nas políticas de saúde, por exemplo, a fim de que elas possam constituir-se como uma série de urgências que, então, sejam respondidas a contento.

O que emerge, tal como o sintoma, precisa ser considerado a partir de sua história e de seu campo de articulação. Um exemplo pode ser encontrado no livro Quarto de Despejo, no qual Carolina Maria de Jesus (1960/2020) afirma que a saúde pública vai até a favela fazer campanha contra a “doença do caramujo” (esquistossomose), falando para a população que esta não deve usar a água do córrego para cozinhar e beber. Porém, na favela não há água encanada e as pessoas não têm acesso a saneamento.

Uma campanha, nesse sentido, estaria no campo da emergência e aparece tal como o sintoma, em nossa escuta: emerge como algo anômalo, incompreensível a princípio, porque desconectado de sua história. O retorno dos agentes de saúde à favela, interpretando que a população não compreende a informação e relegando, então, à educação essa ausência de relação entre a saúde e a população (“eles não entendem porque não foram à escola”) é uma forma de não se responsabilizar pela demanda e não compreendê-la em seu caráter de urgência; historicização sintomática e organização da demanda em suas diversas ramificações (habitacional, de saúde e de assistência), entendendo o caráter transdisciplinar e articulado do território. Uma campanha tenta solucionar a emergência; porém, se não historicizá-la, irá apenas insularizar questões que estão todas conectadas, no entanto apagadas em seus lastros de memória: definição principal de sintoma para a psicanálise – uma alienação frente à história e as possibilidades do sujeito, que se encontram tolhidas por seu isolamento das condições de produção resultando em perda de liberdade e sectarismo.

Para haver política pública é preciso haver demanda. Para haver demanda é necessário haver formalização do pedido. Ela precisa ser reconhecida a partir da forma como é enunciada, e isso requer mobilização de organização da demanda, reconhecimento do território e tradução em estratégias de cuidado. A política pública se consubstancializa quando conseguimos que aquilo se torne lei: ela não é mais uma campanha, ela é uma urgência – deixa de ser emergência para historicizar-se e entrar no campo da direção do tratamento e do sentido.

Segundo Dunker (2022), a urgência situa o plano diagnóstico, dado que situa como o mal-estar pode ser capturado em diferentes gramáticas de sofrimento e consubstanciar-se em distintos sintomas. Em uma perspectiva psicanalítica, essa diagnóstica acompanha a teoria do conflito marxista, dado que a noção de subjetividade não se divide entre indivíduo e grupo, e sim entre desejo e defesa, desejo e moralidade, desejo e seus ideais, desejo e as formas que dão contorno social ao narcisismo, desejo e demanda (Dunker, 2022). Não tratamos indivíduos, em tese, mas sujeitos que estão divididos.

Temos, então, uma psicanálise que pode compor para, juntamente com determinado coletivo, articular demandas que se formalizam em leis e que possam ser efetuadas para a melhoria geral, articulando as emergências às condições de produção. Para tanto, é necessário entender que fazer parte da política pode efetivar-se a partir da identificação e do pertencimento dos psicanalistas a uma categoria mais ampla que a de profissional liberal. Essa categoria seria a de trabalhadores.

Psicanálise é trabalho

Escutar as emergências contingenciais e historicizá-las em um fio narrativo produtor de demandas urgentes é um trabalho: de mapeamento, organização, construção, elaboração e retificação, considerando que trabalhar significa transformar um material agregando-lhe valor, tal como definimos no marxismo (Marx, 1844/2008). Este trabalho pode ser realizado por pessoas que promovam, dentro de determinado território, espaços de escuta e de produção de pertencimento. No entanto, se psicanalistas não se entendem como “fazendo parte” de determinado território ou organização social, temos um problema de pertencimento também no campo da psicanálise. O analista ser uma função (Lacan, 1958/1998) não significa que ele não esteja sustentado em bases materiais.

É comum observarmos fissuras nos grupos e instituições psicanalíticas que acontecem devido a questões interseccionais, principalmente questões de classe, mas que, em sua maioria, são entendidas como produções necessárias da própria teoria, causadora de desejo e de divisões. Desde seu movimento fundante – a excomunhão de Lacan (Lacan, 1967/2003) – muitos circuitos psicanalíticos lacanianos, como forma de identificarem-se com a psicanálise, mimetizam esse funcionamento excomungal. Tornou-se um status. Não subtraio a importância do ato lacaniano de retirar-se da Escola, o que foi fundamental àquele momento, inclusive para apontar o caráter religioso que a psicanálise tomava em suas formações, produzindo uma forma dogmática de transmissão, no entanto, não deixa de ser curioso o fato de que esse ato tenha se tornado um novo dogma em prol de certo purismo de leitura da psicanálise.

A tradição vai se construindo na localização de novos mestres, novas “subversões” (subdivisões) e que, em realidade, apresentam a dificuldade de grupos de psicanalistas comporem entre si, preferindo se encastelar em subdivisões onde podem reinar únicos, que produzirem redes democráticas de transmissão, composição e formação. O que toca aí é uma certa aversão do meio psicanalítico a lidar com a alteridade, palavra tão cara a nós quando falamos da direção do tratamento nas análises que produzimos. O máximo a que chegamos nessa discussão é apresentar a noção freudiana de incômodo (Freud, 1919/2021) para sustentar a posição da psicanálise; porém, de forma quase dicotômica e não dialética: apresentando o incômodo do outro e tornando-nos cômodos. Assim, Escolas não se comunicam, novos grupos se formam e não se apresenta uma rede de organização onde podem compor e, também, apresentar-se à sociedade civil como categoria: esse é o primeiro ponto.

O segundo ponto diz de a psicanálise estar imersa em uma sociedade de classes que tem mostrado de maneira sintomática sua vertente identitária, articulada às raízes ideológicas do neoliberalismo. Esse funcionamento permite que a psicanálise seja tomada como forma, função e nomeação de diversos grupos que não gostaríamos de reconhecer como psicanalíticos: o maior exemplo desses grupos, atualmente, é a psicanálise evangélica – que cresce vertiginosamente no Brasil e que, possivelmente, já tem mais espaços que as Escolas tradicionais de psicanálise. Porém temos também, há mais tempo, psicanálise holística, a trilogia analítica de Norberto Kepp, cursos diversos de formação de analistas em apenas 3 meses, que apontam para o simples fato de que a psicanálise vai se uberizando (Abílio, 2020), assim como toda e qualquer profissão liberal dentro do capitalismo tardio.

Se a psicanálise continuar sendo debatida no campo da propriedade (de quem é a psicanálise?) tal como se tem feito, e não no campo da produção, dificilmente conseguiremos definir e delimitar o seu fazer ordinário, e mais e novas fratrias identitárias serão produzidas, agindo de acordo com as diversas subdivisões elencadas pelo capital (Tupinambá, 2022). Perdemos o solo comum do que é fazer psicanálise e etiquetamo-la a partir de invólucros que dizem de pertença religiosa, de categoria, de segmentos da população etc.

Qual seria então esse fazer ordinário, esse fazer comum, da psicanálise? Como apresentamos acima, psicanalisar trata-se de mudar o destino. Essa perspectiva, no âmbito da saúde, só pode ser associada a uma noção generalista de prática e de teoria. Uma psicanálise que se assenhora de si mesma sem se articular de maneira interdisciplinar através da transferência de trabalho com outros campos do saber e com outras atuações é apenas um regime de absolutização de um saber que não se mostra efetivo em nenhuma outra esfera de atuação cotidiana.  É necessário vincular. E vínculo se relaciona com criar estratégias de transformação em um território que tracem um horizonte comum (Zygouris, 2003) para além das repetições mapeadas via transferência. Como aponta Zygouris (2003):

A relação vivida entre analista e analisando existe, antes de tudo, fora de qualquer mapa; pode ser assimilada ao território, mas na medida em que esta relação se dá num enquadre determinado, que exige uma leitura específica em relação a um campo de saber, existe urna espécie de mapa para separar do conjunto das manifestações da relação aquilo que pode ou não fazer parte do mapa. O território como totalidade daquilo que faz vínculo entre dois protagonistas em uma situação, contém uma infinidade de possibilidades, das quais os conceitos específicos da psicanálise só podem isolar algumas diferenças para constituir o que vai se atualizar no tratamento e autorizar a especificidade da leitura analítica. (p. 10)

O que autorizará uma leitura analítica de determinada situação é, então, o vínculo construído. E este possibilita, via transferência, que se reformulem posições e que outras configurações de significância sejam possíveis. Uma psicanálise generalista significa apresentar, em ato, a escuta do inconsciente, sem associá-lo à noção de indivíduo, de valores morais ou sociais anteriores à escuta. É necessário “julgar” e contrapor a partir do sentido produzido na enunciação dessa escuta, e não tornar o sentido um apêndice do processo analítico, como se fosse um acessório. A transformação vem da consumação de tal ética em seu horizonte de transformação política. E, para tal trabalho, é necessário levar em consideração o território: dado que necessitamos de condições materiais para essa escuta[7].

O pertencimento, portanto, passa por duas instâncias: a de nos localizarmos enquanto trabalhadores e a de trabalharmos com determinado material que supõe alguma localidade. Somos trabalhadores cuja função é escutar e articular emergências para que possam se desenvolver como demandas que sejam formalizáveis, atuantes na leitura e interpretação das gramáticas de sofrimento visando a uma transformação. Não há como essa perspectiva acontecer sem uma construção interdisciplinar e generalista. E não há forma de isso acontecer, também, fora do território.

A dificuldade de entendimento dos psicanalistas como trabalhadores encontra-se no campo do familismo e da elitização da psicanálise. As Escolas de psicanálise muitas vezes se comportam como fratrias, submetidas aos seus pais: Freud e Lacan, principalmente. Essa perspectiva faz jus à infantilização da teoria da Lei paterna e seus modos de uso: submeter-se a um pai trans-histórico e universal é distinto de entendê-lo como função organizativa e estabelecer regimes de filiação que se compõem com o desejo e com reformulações históricas necessárias. As formações tornam-se irmandades associadas a uma espécie de compulsão a repetição transferencial à autoridade, e não um espaço de construção de transferências de trabalho, baseadas no vínculo, prioritariamente.

Juntam-se ao familismo às construções elitizadas sobre a formação do psicanalista. Sabe-se que no Brasil, as Escolas de Psicanálise sempre foram espaços frequentados pelas elites, tanto pelos altos valores da formação quanto pelos períodos em que estas aconteciam, restringindo o acesso dessa formação à classe trabalhadora. Alguns desses espaços produzem formas de facilitação do acesso; porém, o que se encontra, em sua maioria, são discursos pouco permeáveis para outras produções culturais e modos de vida, fazendo da relação com a psicanálise uma normatividade que exclui subjetividades “dissidentes”, leia-se: periféricas, em seu sentido mais amplo. Além disso, o fato de não ter nenhum tipo de compromisso formal com a “questão pública” faz com que a política cotidiana tenha pouco ou nenhum impacto nesses espaços, dado que as elites são pouco atingidas pela perda de direitos, devido ao seu lastro familiar e ao seu poder aquisitivo[8].

A psicanálise, então, torna-se a insígnia de um status, associado à elite e à tradição. O trabalhador, esse termo empoeirado e um pouco esvaziado atualmente, fica obliterado por essa noção e há um apagamento de que a psicanálise é um trabalho. Esse apagamento traz um problema relativamente grave, que diz da alienação dos psicanalistas aos espaços públicos e à sua relação moebiana com a luta de classes.

A alienação quanto a ser parte da sociedade como trabalhador dissocia suas ações em cadeia, articuladas às demais áreas e setores como a saúde e a educação, produzindo assim uma espécie de metafísica do território onde o psicanalista atua; o consultório, dissociado das questões interseccionais ou da materialidade do cotidiano das pessoas torna-se uma ilha, onde a política não avança. Por isso, a não discussão séria quanto à regulamentação não diz respeito só aos psicanalistas, mas ao impacto que essa ação pode criar na sociedade civil e ao avanço das políticas manicomiais, por omissão da psicanálise (bem como a omissão no golpe de 1964, como colocado acima): o trabalho, alienado da conjuntura, tem seu valor subtraído. Não quero, com isso, dizer que a psicanálise teria o poder de alterar as políticas manicomiais, assim como certamente não teria o poder de alterar o golpe de 1964, o que não significa que ela não possa se responsabilizar – se desalienar – das consequências das suas ações na sociedade. Pensar seriamente sobre a regulamentação não tem a ver apenas com os psicanalistas, dado que a psicanálise não é uma propriedade, e sim um trabalho: um trabalho que transforma e produz valor e que tem consequências na transformação e no horizonte político de determinada época. O reconhecimento social da psicanálise deve se dar pelo trabalho apresentado, e não pela insígnia elitizada que carrega.

Voltamos aqui ao incômodo, agora de outro lugar: o incômodo quando pensado a partir de algo que incomoda e que, ao mesmo tempo, carrega um cômodo[9] em seus termos. Um espaço, podendo ser ocupado ou não, que reinventa esse possível espaço da psicanálise, que não é o do infamiliar (as famílias da psicanálise), não é o do inquietante (o silêncio ensurdecedor da omissão dos analistas), não é o do estrangeiro com passaporte psicanalítico (que se sente reconhecido pela sua identificação), e sim daquele que pode fazer espaço, ocupar lugar, criar laços para além e com a precariedade imposta pelo capital – diferente de fazer um puxadinho e acomodar-se na casa de família pequeno-burguesa, esperando as heranças abençoarem o caminho de seus descendentes.

A psicanálise como ocupação

Pensar a psicanálise como ocupação é uma forma de manter a especificidade de sua relação com o Estado, guardando suas formas políticas. Uma ocupação está além e aquém das políticas formais, é um local que se sustenta a partir de uma demanda imediata – de moradia, de atuações assistenciais diversas (casas de referência que acolhem mulheres em situação de violência, por exemplo) e que, a partir dessa emergência, cria redes, vínculos, se introduz e se forma juntamente com o território. Conecta as políticas formais com as demandas comunitárias, revive e transforma o espaço público. Uma ocupação é uma forma de tradução da luta de classes em termos de políticas de compreensão do sofrimento. 

Quando, como psicanalistas, nos colocamos de forma moebiana dentro da luta de classes, abrimos espaço para uma solidariedade voluntária, um engajamento epidérmico, que se traduz em práticas e ações afirmativas pontuais que não alcançariam nem o estatuto de reforma (Luxemburgo, 2015).  Um exemplo da falta de percepção quanto à conjuntura e aos efeitos de uma recusa à disputa política é o próprio bacharelado em psicanálise mencionado acima: a estratégia de um bacharelado em psicanalise reside no desmantelamento das políticas públicas de saúde – um governo que terá, nas mãos,  futuros profissionais de saúde para empregar em comunidades terapêuticas, retirando os psicólogos dessa função e inviabilizando a fiscalização desses espaços pelos conselhos de profissão (que realizavam tal intento em parceria com o ministério público), tal como afirmou Alencar (2021): “[o bacharelado] se utiliza do nome ‘psicanálise’ para realizar drible nas regulamentações estabelecidas acerca da área da saúde e educação.” 

Sabemos, pela história da regulamentação da psicologia no Brasil, que ela se efetiva no governo Médici e que se constitui a partir de muito silenciamento da categoria quanto à conjuntura política da época. Essa construção produziu um conselho de classe técnico e burocrático e a concessão de psicólogo honoris causa a Médici, na época (Hur, 2012). No período de redemocratização, outros grupos começam a ocupar o conselho e politizá-lo, na esteira das reformas sanitária e psiquiátrica. Estaríamos repetindo a história da psicologia no Brasil? Estaríamos, por omissão, corroborando para uma saúde pública manicomial? Podemos, também, lembrar dos casos mencionados no início desse texto, sobre a posição das instituições psicanalíticas durante a ditadura militar no Brasil: primeiro como tragédia, depois como farsa. Não poderíamos deixar de pensar aqui em Zizek (2012): qual a posição da psicanálise frente as suas próprias repetições?

Talvez coubesse a nós, psicanalistas, recorrer aos lapsos da história a partir de operadores clínicos já tão conhecidos à nossa escuta: a elaboração, a construção e a interpretação – formas de criar pontes, reconfigurar espaços e retificar posições frente ao futuro e a constituição de subjetividades de determinado território: produzir formas de pertencimento a um povo, contribuindo, assim, para sua saúde. A alienação quanto a esse processo político é sintomática da elitização da psicanálise brasileira, quase uma resposta infantil a um pai que, excluído e não reconhecido em seu pertencimento, produz em nós uma forma imaginária de responder aos seus anseios: sim, Freud, a psicanálise está em ascensão no mundo moderno. Seria a ascensão, então, a identificação ao ideário burguês de sucesso, pautado na acumulação de capital e na liberdade individualizante?

A psicanálise se formalizar como ocupação significa: entender e mapear um território dividido de diversas formas. Ocupar e criar a partir dos lapsos de memória e das terras e espaços improdutivos e sem função. A psicanálise dá função às obliterações e aos apagamentos de sentido, direciona-os no sentido da emergência do desejo. Ela constitui o que emerge (e demanda ser decifrado, rompendo uma série) e torna-a urgente, ou seja, prioritária, a partir de sua historicização. Uma ocupação faz rede no território, cria-se a partir de seus vínculos, transformando também esse espaço. Ela também tem um papel construtivo a partir do momento em que ocupa o território, compondo com suas interpretações e dando voz à formalização de propostas construídas a partir de demandas antes inauditas.

 A psicanálise ocupa-se dos interesses públicos, até porque estes dizem das relações e convívios humanos, dizem dos nossos processos de humanização. Porém, enquanto continuar relegando a liberdade, a humanidade e a escuta à necessidade de privatização desses processos – como se a clínica pudesse ser reduzida ao consultório e a intimidade, à clausura –, ela estará apenas corroborando com um ideário burguês de subjetividade, trabalhando com seus conceitos de forma superficial e epidérmica sem chegar em sua radicalidade. Ela fará um puxadinho na história, como uma teoria da subjetividade qualquer: adaptativa das subjetividades ao bem-estar almejado pela burguesia (Mascaro, 2021). Uma psicanálise sem articulação ao seu horizonte político é um instrumento de coach elitizado, baseado na herança e na manutenção de seus descendentes.

É necessário radicalizar: a questão não é apenas democratizar o acesso ao tratamento e ao ensino da psicanálise, e sim chegar à raiz de nossas epistemologias que sejam capazes de responder: é possível a psicanálise no século XXI? Interseccionalidades, políticas públicas, reinvenção do estado, fratrias identitárias, de que modo a psicanálise pode responder a isso? Diria eu: ocupando e se ocupando, efetivamente, dessas articulações.

Diz Alencar (2022): “O que realmente ameaça a psicanálise no Brasil não é sua burocratização, mas sim sua instrumentalização para autorizar pessoas a trabalharem no que há de pior em instituições de saúde mental”, que se dá pelo fato de acharmos que nossa cidadania psicanalítica é maior que nossa participação social e que o entendimento da psicanálise enquanto propriedade dos psicanalistas não tem consequências – e essas, não só existem como são extremamente danosas – para a sociedade em geral, contribuindo, por omissão, para uma política de extermínio social.

Parafraseando, então, Bairrão (2000) eu me perguntaria: o que seria o psicanalista hoje? O funcionamento endogâmico da psicanálise e sua forma de compreensão do mundo totalizante, em suas bases teóricas, servem apenas para corroborar o destino, e não alterá-lo. Seria isso que se espera da psicanalise? Espero que não. Espero que estejamos à altura da radicalidade proposta por Freud: aquém e além das margens, ocupando e construindo territórios.

[1] Ou inédita, diria Zygouris (2003): a percepção do mapa transferencial que ocorre devido aos operadores conceituais da psicanálise reformula nossas estratégias quanto ao vínculo e suas funções. Podemos também pensar com Lacan (1953/1998) a partir do termo “artificial”.
[2]Em miúdos, duas ideologias: a hegemônica – mesmo que pelo recorte da exclusão da medicina – e a contra-hegemônica, na tentativa de compor, a partir das margens, novas epistemes.
[3]É certo que não se troca de ideologia como se troca de roupa. É um longo processo de alienação e separação, construção de novos lugares de estar, e certa aposta em uma incerteza que se apresenta ainda mais incerta por se separar de ideologias dominantes. Portanto, paciência à construção de horizontes.
[4]
Entende-se como não-psicanalistas, pessoas que não tiveram suas formações nas tradicionais Escolas de Psicanálise, não apresentando nenhum lastro simbólico a tais tradições, argumento, em si, bastante institucional para uma prática que se diz livre demais para não ser institucionalizada. 
[5] 
Uma excelente explanação de tal articulação entre as raízes do liberalismo e a prática de consultório na psicanálise pode ser vista no vídeo: Sujeito Jurídico e Estado Neoliberal: hiâncias para se pensar o sujeito da psicanálise, conferência proferida pelo jurista Alysson Mascaro, que apresenta, de forma negritada, o caráter ideológico da escuta no campo da saúde e seu aspecto privatista (subentendido como íntimo).
[6]
 Inclusive nossa própria topologia do aparelho psíquico, em sua dinâmica, é pensada a partir de critérios de passagem de uma instância a outra que supõem certa censura: recalque, repressão, mecanismos sublimatórios, entre outros.
[7] Nesse sentido, projetos que envolvem a psicanálise e os espaços públicos e a psicanálise e a periferia seriam projetos que se apresentam a partir de sua articulação com o território, mostrando-nos que a teoria, para que seja efetivamente analítica e terapêutica, precisa se localizar nas produções e registros culturais de determinado espaço, senão perde-se sua função. Seriam projetos de “racialização” da psicanálise que, dialeticamente, “racializariam” também a psicanálise europeia, branca, “universal” – uma aposta fanoniana de transformação para alçar o universal.
[8] 
Estas afirmações são realizadas em seu teor histórico. É sabido que atualmente muitos espaços têm pensado em inclusão e acesso em sua formação, principalmente quanto à diversidade representativa de seus membros. Ainda pouco é trabalhado em termos de mudanças epistemológicas ou políticas de permanência, mas creio que com implementação da diversidade esse passo aproxima-se cada vez mais.
[9] 
Essa associação foi possível devido a comunicação pessoal do tradutor da última edição deste brilhante texto freudiano: Paulo Sérgio de Souza Jr.

referências

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Bairrão, J. F. H. M. (2000) Clínica e Sociedade: O que será um psicanalista? Boletim Formação Psicanalítica, São Paulo, vol. 9, n. 2; pp. 7-22.

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Clarice Pimentel Paulon

Psicóloga, psicanalista, mestre e doutora em psicologia pela USP e especialista em gestão em saúde pública pela UNICAMP. Pós-doutoranda no Instituto de Psicologia da USP e professora e supervisora da residência em rede da prefeitura de São Paulo, membro do Latesfip-Cerrado (UnB) e co-coordenadora do projeto sobre Sofrimento Universitário do Grupo de Investigação Territórios e Subjetividades (GITS-USP). Membro da Tamuya, Escola de formação popular.